Nina






A Nina teve uma presença fugaz em minha casa. Veio do parque de campismo de Grândola, onde eu estava numa acção de limpeza das praias. No parque havia uma ninhada e na última noite em que lá estive um foi morto por uma raposa, que fazia visitas nocturnas em busca de comida. Tive tanta pena que, mesmo já tendo dois gatos em casa, decidi trazer esta coisa pequena e linda. Inicialmente chamou-se Mar, porque vinha de perto do mar e começava com a letra M, como os outros dois, mas rapidamente a minha filha re-baptizou-a. Adaptou-se bem ao Mathias e à Mia, mas foi sempre uma gata "meio selvagem" em termos de comportamento. Destruía-me as plantas todas e tinha uma postura de "não estou nem aí" quando eu ralhava com ela. Na altura eu morava num primeiro andar, com acesso directo à rua, de uma casa muito velha, no centro da Parede (a minha preferida até hoje). A casa tinha muitos problemas estruturais, tendo chegado a cair parte do tecto. Eles dormiam os três numa zona da casa onde estava incluída a cozinha. Uma bela manhã, quando entro na cozinha, estava um pequeno rato morto e estripado no meio do chão. Pelo comportamento e antecedentes dela, tenho a certeza que foi ela que o caçou. Foi nesse momento que comecei seriamente a pensar em mudar de casa. Uns dias depois, ao sair de casa percebi que me faltava uma coisa e voltei atrás para a ir buscar. A porta, também ela velha, ficou mal fechada e a Mia e a Nina desceram para a rua. A Mia voltou logo para dentro, mas a Nina olhou-me com ar de desafio e fugiu para o quintal das traseiras. Estive uma hora a tentar tirá-la de lá, num espaço pequeno, até desistir. Parecia um felino selvagem a fugir do ser humano. Todo o instinto e origens vieram ao de cimo e nunca a consegui apanhar. Via-a à noite, a passar por cima dos telhados, com ar completamente ambientada. No fundo, acho que sempre foi uma gata de rua que, temporariamente, viveu numa casa e tolerou a companhia humana.

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