a casa cor de rosa
Neste impasse em que pouco se pode fazer em termos práticos, o meu foco está todo no grande projecto que é a preparação da nossa futura casa. E desta vez, uma casa própria, um projecto de remodelação total, que vai levar uns meses até ser concluído e podermos começar uma nova vida.
Entre orçamentos, projectos, plantas, materiais e decoração, há muito a decidir e a planear. No meio da selecção dos móveis, entre os que ficam guardados para outro futuro menos imediato e os que seguem connosco nesta fase, descobri fotos de outras casas por onde passei. Esta casa, foi de todas a que mais gostei de habitar, a que tinha uma estrutura que mais se assemelhava ao meu gosto pessoal e de onde guardo boas recordações.
Por motivos óbvios, chamava-lhe a casa cor de rosa. Era uma casa velha, demasiado velha, cheia de problemas de construção, estrutura, onde um tecto caiu e outro estava prestes a cair, onde os insectos e rastejantes apareciam por todo o lado e onde um dia abro a porta e tinha um pequeno rato morto no meio da cozinha...três gatos deram jeito para isto. Parecia que morava numa casa térrea no campo, mas era um primeiro andar na Parede.
O chão era em madeira pintada de branco, tinha portadas e um pé alto fantástico. Muitas divisões e entradas de umas divisões para as outras, numa estrutura antiga que adoro. A sala era o centro da casa e a luz espalhava-se por todo o lado. Esta foi a casa que mais gostei de decorar, em pequenos detalhes, todos virados para o antigo, juntando móveis herdados de várias origens e estilos. Algumas destas peças sobreviveram aos últimos anos e mudanças, outras nem por isso. Apesar de tudo, não lamento, pois sei que tudo tem o seu ciclo e finalidade específica.
Estas fotos são do primeiro hall de entrada, onde culminava a escada exterior que dava acesso à casa, fechada em jeito de marquise, e onde o sol e o verde do limoeiro me faziam pensar que estava no campo. Deste hall entrava-se para a casa pela porta principal e para a cozinha, pois antigamente havia porta directa da cozinha para a rua. O gato, era o meu Matias, de todos os gatos que já tive e tenho, o meu preferido e o único pelo qual chorei e ainda hoje me custa a sua ausência. Esta mesa e estas cadeiras, têm como destino o terraço da casa nova, onde tenciono fazer almoços tardios e longas noites de conversa à luz da lua.
Este era o hall propriamente dito, com comunicação para a casa de banho, para o closet e para a sala central. Este rádio é a minha peça preferida de todas as que herdei. Um Blaupunkt com gira-discos creme no interior, que foi do meu avô e tem pelo menos uns sessenta anos. É a única peça de mobiliário a entrar no novo projecto. As pulseiras também são muito antigas, eram da minha mãe quando era jovem. Raramente as uso, porque as pulseiras não são práticas para o dia a dia, mas gosto delas como objectos decorativos.
Estas fotos são todas da sala central, um espaço amplo cheio de portas e um desafio em termos de decoração tradicional, por assim dizer, mas perfeito para as brincadeiras da Raquel. Para além da porta da própria sala, existiam ainda a porta do meu quarto, do quarto da minha filha, da sala de jantar e da cozinha. E uma porta exterior, tipo janela que dava a luz suficiente a todo o espaço.
Em todas as minhas casas existiram plantas, muitas plantas, espalhadas por todo o lado. Adoro plantas verdes e frondosas. Nesta última mudança, com pena minha, tive de me desfazer de muitas. Em jeito de compensação, o universo deu-me um caminho até à nova casa cheio de plantas.
A cozinha era a divisão mais pequena de toda a casa e não tinha janela, tinha apenas a tal porta para o primeiro hall, que em tempos foi um hall exterior. Ainda assim, habituada a cozinhas pequenas, sempre me consegui orientar nela sem qualquer dificuldade. Uma cozinha onde uma das portas se dobrava ao meio e onde não havia bancada, mas havia um lava-louça duplo. Amarelo e vermelho, os meus tons preferidos, ainda hoje, para a cozinha. O Matias estava sempre onde eu estivesse e adorava ver-me cozinhar. A Mia nem por isso, mas fazia-lhe companhia ocasionalmente.
A casa de banho, comparada com o resto da casa, era muito espaçosa. A sensação que tenho é que deve ter sido construída depois da casa, pois a mesma tem mais de cem anos, e na época as casas de banho eram exteriores. Naquele tempo, a Parede era campo e praia e estas casas eram as casas de apoio de uma quinta. Para além da dimensão, tinha uma janela enorme, o que era fantástico.
A casa nova é completamente diferente, a começar pela dimensão. É uma casa de bonecas, ainda estruturada apenas no papel, e que também ela aguarda o fim da quarentena para começar a tomar forma e regressar à vida.
*
In this impasse where little can be done in practical terms, my focus is
all on the big project that is the preparation of our future home. And this
time, a house of its own, a total remodeling project, which will take a few
months to complete and we can start a new life.
Between budgets, projects, plans, materials and decoration, there is a lot
to decide and plan. In the middle of the selection of furniture, among those
that are kept for another less immediate future and those that remain with us
at this stage, I discovered photos of other houses where I passed. This house
was one of the ones I liked to live in the most, the one that had a structure
that most resembled my personal taste and where I keep good memories.
For obvious reasons, I called it the pink house. It was an old house, too
old, full of construction problems, structure, where one roof fell and another
was about to fall, where insects and creepers appeared everywhere and where one
day I open the door and had a little dead mouse in the middle of the kitchen
... three cats worked it out. It looked like he lived in a one-story house in
the country, but it was a first floor on the wall.
The floor was made of white painted wood, with shutters and a fantastic
tall foot. Lots of rooms and entrances from rooms to rooms, in an old structure
that I love. The room was the center of the house and the light was scattered
everywhere. This was the house I most liked to decorate, in small details, all
facing the old, joining furniture inherited from various origins and styles.
Some of these pieces have survived the last few years and changes, others not
at all. After all, I am not sorry, as I know that everything has its cycle and
specific purpose.
These photos are from the first entrance hall, where the exterior stairway
leading to the house culminated, closed in a marquee style, and where the sun
and the green of the lemon tree made me think I was in the countryside. From
this hall you entered the house through the main door and the kitchen, as in
the past there was a direct door from the kitchen to the street. The cat, was
my Matias, of all the cats I have ever had and I have, my favorite and the only
one I cried for and it still costs me his absence today. This table and chairs
are destined for the terrace of the new house, where I intend to have late
lunches and long nights of conversation in the moonlight.
This was the hall itself, with communication to the bathroom, closet and central room. This radio is my favorite piece of all I inherited. A Blaupunkt with cream turntables inside, which belonged to my grandfather and is at least sixty years old. It is the only piece of furniture to enter the new project. The bracelets are also very old, they belonged to my mother when I was young. I rarely use them, because bracelets are not practical for everyday life, but I like them as decorative objects.
These photos are all from the central room, a wide space full of doors and
a challenge in terms of traditional decoration, so to speak, but perfect for
Raquel's games. In addition to the door to the living room, there was also the
door to my bedroom, my daughter's bedroom, the dining room and the kitchen. And
an outside door, like a window that gave enough light to the entire space.
In all my houses there were plants, many plants, scattered everywhere. I
love green and leafy plants. In this last change, with my pity, I had to get
rid of many. As compensation, the universe gave me a path to the new house full
of plants.
The
kitchen was the smallest room in the house and had no window, it only had such
a door to the first hall, which was once an exterior hall. Still, used to small
kitchens, I was always able to orient myself in it without any difficulty. A
kitchen where one of the doors folded in half and where there was no
countertop, but there was a double sink. Yellow and red, my favorite shades,
even today, for the kitchen. Matias was always where I was and he loved
watching me cook. Not at all for Mia, but she kept her company occasionally.
The rooms were small, especially mine, but the white helped with the visual range of the space and had lots of natural light.
The
bathroom, compared to the rest of the house, was very spacious. The feeling I
have is that it must have been built after the house, as it is over a hundred
years old, and at the time the bathrooms were outside. At that time, Parede was
a field and beach and these houses were the support houses of a farm. In
addition to the size, it had a huge window, which was fantastic.
The
new house is completely different, starting with the dimension. It is a
dollhouse, still structured only on paper, and which also awaits the end of the
quarantine to start taking shape and returning to life.
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